A idéia
de senso comum, inclusive de muitos pedagogos, é a de que Pedagogia é ensino,
ou melhor, o modo de ensinar.
Uma
pessoa estuda Pedagogia para ensinar crianças. O pedagógico seria o
metodológico, o modo de fazer, o modo de ensinar a matéria. Trabalho pedagógico
seria o trabalho de ensinar, de modo que o termo pedagogia estaria
associado exclusivamente a ensino.
Há, de
fato, uma tradição na história da formação de professores no Brasil segundo a
qual pedagogo é alguém que ensina algo. Essa tradição teria se firmado no
início da década de 30, com a influência tácita dos chamados “pioneiros da
educação nova”, tomando o entendimento de que o curso de Pedagogia seria um
curso de formação de professores para as séries iniciais da escolarização
obrigatória.
O
raciocínio é simples: educação e ensino dizem respeito a crianças (inclusive
porque “peda”, do termo pedagogia, é do grego “paidós”, que significa criança).
Ora, ensino se dirige a crianças, então quem ensina para crianças é pedagogo. E
para ser pedagogo, ensinador de crianças, é preciso fazer um curso de
Pedagogia. Foi essa idéia que permaneceu e continua viva na experiência
brasileira de formação de professores.
Aliás,
a aceitar esse raciocínio, não sabemos porque os cursos de licenciatura também
não receberam a denominação de cursos de Pedagogia.
A idéia
de conceber o curso de Pedagogia como formação de professores, a meu ver, é
muito simplista e reducionista, é, digamos, uma idéia de senso comum. A
Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos
educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um
significado bem mais amplo, bem mais globalizante.
Ela é
um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e
historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O
didata alemão SCHIMIED-KOWARZIK (1983) chama a Pedagogia de ciência da e
para a educação, portanto é a teoria e a prática da educação.
Ela tem
um caráter ao mesmo tempo explicativo, praxiológico e normativo da realidade
educativa, pois investiga teoricamente o fenômeno educativo, formula
orientações para a prática a partir da própria ação prática e propõe princípios
e normas relacionados aos fins e meios da educação.
Pedagogia
é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo
sistemático
da educação − do ato educativo, da prática educativa como componente integrante
da atividade humana, como fato da vida social, inerente
ao
conjunto dos processos sociais. Não há sociedade sem práticas educativas.
Pedagogia
diz respeito a uma reflexão sistemática sobre o fenômeno educativo, sobre as
práticas educativas, para poder ser uma instância orientadora do trabalho educativo.
Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso
conjunto de outras práticas. O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que
a educação ocorre em muitos lugares e sob variadas modalidades: na família, no
trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política, na escola.
De modo que não podemos reduzir a educação ao ensino e nem a Pedagogia aos
métodos de ensino. Por conseqüência, se há uma diversidade de práticas
educativas, há também várias pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia
sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., além, é claro, da
pedagogia escolar.
Podemos
dizer, então, que a toda educação corresponde uma pedagogia. Mas o que
entendemos sobre esse termo que denominamos educação ou prática educativa? Educação
compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas e ações que
intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação
ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações
entre grupos e classes sociais, visando a formação do ser humano. A
educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que modifica os
seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá
uma configuração à nossa existência humana individual e grupal. Escreve a esse
respeito o pedagogo alemão SCHMIED-KOWARZIK (1983):
A educação é uma função
parcial integrante da produção e reprodução
da vida social, que é
determinada por meio da tarefa natural e, ao mesmo
tempo, cunhada socialmente
da regeneração de sujeitos humanos, sem
os quais não existiria
nenhuma práxis social.
A história do progresso
social é simultaneamente
também um desenvolvimento dos indivíduos
em suas capacidades
espirituais e corporais e em suas relações mútuas.
A sociedade depende tanto
da formação e da evolução dos indivíduos
que a constituem, quanto
estes não podem se desenvolver fora das
relações sociais.
Libaneo
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